Esse texto foi escrito pelo Xico
Sá, escritor, jornalista e colunista da Folha. Não é perfeito!?
"Hora
de retrospectiva da gramática amorosa no apagar das luzes deste 2012.
Repitam
comigo, esses moços, pobres moços: sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no
máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.
Sim,
o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos:
“Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e
silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde
começou a pulsar…”
Acaba,
mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor.
E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de
antigamente ou no samba de Roberto Silva: SANGUE, SANGUE, SANGUE!!!
Sem
reticências…
Mesmo,
em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido a
prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.
O
homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!
O
macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair
por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no cigarro sem filtro
da covardia e do desamor.
Mulher
se acaba, mas diz na lata, sem mané-metáfora.
Melhor
mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra
miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré,
acusações mútuas, o diabo-a-quatro.
O
amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem
aqui nem Suécia.
Se
ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem
pelo menos uma discussão calorosa.
Fim
de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do
cartório, de que o amor ali não mais estava.
O
mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I
Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que
não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas
da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim
do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino
da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou
com o primeiro traste que aparece pela frente."
E não percam nosso último programa de 2012, dia 22 de dezemvro... isso se o mundo não acabar, claro!!!